quarta-feira, 7 de setembro de 2011

7 de setembro

Hoje é feriado!


Meu relógio biológico não sabe o significado disso, não sabe que não precisamos trabalhar ou estudar em dias de feriado. Por esta ignorância de meu cérebro, acordo cedo, sempre. Sábado, domingo ou feriado a rotina é sempre a mesma: acordo antes das 6 da manhã.

Deixemos a insônia de lado e voltemos ao tema do feriado: 7 de setembro, dia da Independência do Brasil.

Fiquei pensando em que escrever... Em o que dizer sobre nossa independência.

Lembrei-me do tempo em que estudava no IEP, no final dos anos 80. Participava de todos os eventos da escola, com exceção de um: o desfile estudantil do dia da Raça.

Nosso grupo era politizado, nosso Grêmio Estudantil atuante e achávamos o desfile algo militarizado, lembrava a Ditadura Militar.

Teve um ano que um dos nossos amigos, não lembro quem, na época do desfile escolar, apareceu com um disco, com apenas duas músicas, um compacto*. Chamou todos para um canto da escola e tirou da mochila um toca disco e ficamos escutando aquela música. A letra da canção parecia dar sentido a nossa rebeldia, a nossa recusa de participar do desfile escolar, fundamentava outro olhar sobre a independência do Brasil.

Tenho certeza que aprendi mais ouvindo música do que em qualquer outro meio, minha formação é musical, não é literária.

A música em questão é a Canção do Subdesenvolvido, a letra abusa da ironia para narrar os fatos da história do Brasil e também questionar sobre o significado de nossa independência.

A música foi composta na década de 60, do século passado, mas continua atual, pois ainda somos um país exportador de matérias-primas agrícolas e minerais e importadores de produtos industrializados, esta é uma verdade nacional e para o norte de Brasil uma verdade absoluta.

*O compacto era um disco de vinil com apenas duas faixas, uma no lado A e outra no lado B. As vitrolas portáteis (tocadores) funcionavam a pilhas, era o ancestral do MP3.



Canção do Subdesenvolvido

Carlos Lyra/Chico de Assis

O Brasil é uma terra de amores

Alcatifada de flores

Onde a brisa fala amores

Em lindas tardes de abril

Correi pras bandas do sul

Debaixo de um céu de anil

Encontrareis um gigante deitado

Santa Cruz, hoje o Brasil

Mas um dia o gigante despertou

Deixou de ser gigante adormecido

E dele um anão se levantou

Era um país subdesenvolvido

Subdesenvolvido, subdesenvolvido, etc. (refrão)

E passado o período colonial

O país se transformou num bom quintal

E depois de dadas as contas a Portugal

Instaurou-se o latifúndio nacional, ai!

Subdesenvolvido, subdesenvolvido (refrão)

Então o bravo povo brasileiro

Em perigos e guerras esforçado

Mais que prometia a força humana

Plantou couve, colheu banana..

Bravo esforço do povo brasileiro

Que importou capital lá do estrangeiro

Subdesenvolvido, subdesenvolvido... etc. (refrão)

As nações do mundo para cá mandaram

Os seus capitais desinteressados

As nações, coitadas, queriam ajudar

E aquela ilha velha ajudou também

País de pouca terra, só nos fez um bem

Um grande bem, um 'big' bem, bom, bem, bom

Nos deu luz, ah! Tirou ouro, oh!

Nos deu trem, ahhh! Mas levou o nosso tesouro

ooooh! Subdesenvolvido, subdesenvolvido... etc. (refrão)

Houve um tempo em que se acabaram

Os tempos duros e sofridos

Pois um dia aqui chegaram os capitais dos..

Estados Unidos

País amigo desenvolvido

País amigo, país amigo

Amigo do subdesenvolvido

País amigo, país amigo

E nossos amigos americanos

Com muita fé, com muita fé

Nos deram dinheiro e nós plantamos

Nada mais que café

E uma terra em que plantando tudo dá

Mas eles resolveram que a gente ia plantar

Nada mais que café

Bento que bento é o frade - frade!

Na boca do forno - forno!

Tirai um bolo - bolo!

Fareis tudo que seu mestre mandar?

Faremos todos, faremos todos...

E começaram a nos vender e a nos comprar

Comprar borracha - vender pneu

Comprar madeira - vender navio

Pra nossa vela - vender pavio

Só mandaram o que sobrou de lá

Matéria plástica,

Que entusiástica

Que coisa elástica,

Que coisa drástica

Rock-balada, filme de mocinho

Ar refrigerado e chiclet de bola

E coca-cola! Oh...

Subdesenvolvido, subdesenvolvido... etc. (refrão)

O povo brasileiro tem personalidade

Não se impressiona com facilidade

Embora pense como desenvolvido

Embora dance como desenvolvido

Embora cante como desenvolvido

Lá, lá, la, la, la, la

Êh, êh, meu boi

Êh, roçado bão

O meior do meu sertão

Comeram o boi...

Subdesenvolvido, subdesenvolvido, etc. (refrão)

Tem personalidade!

Não se impressiona com facilidade

Embora pense, dance e cante como desenvolvido

O povo brasileiro

Não come como desenvolvido

Não bebe como desenvolvido

Vive menos, sofre mais

Isso é muito importante

Muito mais do que importante

Pois difere os brasileiros dos demais

Pela... personalidade, personalidade

Personalidade sem igual

Porém... subdesenvolvida, subdesenvolvida

E essa é que é a vida nacional!



Um comentário:

Emanuel disse...

Como é bom um feriado, deveria ter mais, muito mais, principalmente, porque compensa um pouco a luta diária que os trabalhadores assalariados são submetidos, verdadeira exploração! Enquanto isso os patrões enchem seus bolsos e gritam: "Mais um feriado! Assim não dá! Esse "país" não vai pra frente!". Conclusão os patrões vão pra frente e os trabalhadores são passados para trás. Pelo menos nos feriados podemos aproveitar pra "meter o pau" nos governantes, na elite e na corrupção que esmaga nossa independência e nossos ideais diariamente.