Quando ainda gostava de estudar história, tomei conhecimento de uma teoria que buscava explicar os fenômenos culturais, a ideia era superar o debate sobre a existência de uma cultura erudita (classe dominante) e uma cultura popular (classe dominada).
A teoria da circularidade de ideias tenta mostrar que um determinado fenômeno pode ser considerado em um determinado contexto histórico como cultura erudita e noutro como cultura popular.
Os autores que defendem esta teoria negam a existência de uma dicotomia entre cultura popular e cultura erudita, consideram as duas como sendo manifestações da cultura e que ocorre intensa trocas de influências e símbolos entre elas.
No prefácio da edição inglesa do livro O queijo e os vermes, Ginzburg inspirado pelos exemplos contidos na obra do crítico literário russo Mikail Bakhtin, menciona o termo "circularidade", para falar da comunicabilidade entre a cultura das classes dominantes e a das classes subalternas ocorrido na Europa pré-industrial. Essa comunicação se dava de forma dialógica, com "influência recíproca" (Ginzburg, 1987:13)
Como exemplo, pode-se citar o carnaval brasileiro. Existe algo mais popular que o carnaval? Entretanto, os enredos são cada vez mais sofisticados, a história contada nos desfiles são complexas, aproximando-se do teatro e da ópera, portanto, trazem traços da chamada "cultura erudita".
O leitor deve estar estranhando esta minha conversa, pois o título deste post fala da Gaby Amarantos (musa do tecnobrega) e da música Água de Março, composta por Tom Jobim (ícone da bossa nova).
Esclareço. Hoje recebi um e-mail que comentava a versão de Águas de Março que Gaby gravou. Como sou muito curioso, dei um clic e ouvi.
Para escrever este post, tive que recorrer ao meu passado de professor de história, pois a mistura era, para mim, improvável. Daí buscar nos meus referenciais, uma explicação. Aproveito para pedir desculpas se cometi algum deslise teórico ou se forcei a barra na explicação sobre a circularidade cultural, é que já são mais de 5 anos sem estudar esta disciplina.
Me auto determino como um ex-professor de história.
Mas chega de enrolação, não terminarei esta postagem sem compartilhar com vocês a versão de Gaby, ela que já havia ganho bons pontos comigo ao participar da posse da presidenta Dilma, agora ganha mais alguns, quem sabe um dia resolvo ir a um show dela, quem sabe?
Primeiro o texto da notícia:
O pau e a pedra - verso e melodia - estão lá, intactos. Mas o fim do caminho é completamente novo. Sob a batida do tecnobrega, seus timbres digitais de sabor vulgar e o canto quente e úmido de Gaby Amarantos (conhecida como a Beyoncé do Pará) - o oposto da histórica leitura cool de Elis -, "Águas de março" soa novíssima. E impressionante. Lançada digitalmente na Europa como faixa-bônus do EP "L.O.V.E. banana", de João Brasil e Lovefoxx, a gravação não só aproxima Tom Jobim do terreno da música ultrapopular de Belém (gênero aberto por natureza, acolhendo hits do pop internacional e ritmos tradicionais do Norte) como também - seu feito mais notável - apresenta uma maneira originalíssima de cantar o clássico, renovando (e confirmando) a potência da canção.
Marcelo Carvalho
Um comentário:
Gostei muito do teu texto, Marcelo. Eu não me imagino indo a um show da Gaby porque nao gosto de tecnobrega, mas gosto muito de saber que "Águas de Março" chega aos ouvidos de milhares de pessoas que talvez nunca tiveram a oportunidade de ouvir essa bonita letra que tanto significa para música brasileira. Beijos.
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