Precisamos
colocar o problema da gestão dos resíduos sólidos na pauta política e social de
todas as cidades, temos que debater como reduzir e tratar de forma sustentável os
resíduos sólidos gerados diariamente pela sociedade.
No Pará,
a maioria das cidades deposita seus resíduos em lixões, inclusive a capital,
Belém. Os lixões são depósitos inadequados, pois os resíduos são lançados no
meio ambiente sem nenhum tratamento, atraem insetos, animais domésticos,
roedores e aves. Como consequência
poluem o ar, o solo e a água.
O lixão
tornou-se local de trabalho para milhares de catadores, brasileiros que sem
alternativas, encontraram no lixo sua sobrevivência, seu trabalho e renda.
A
Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei Nº 12.305, aprovada em agosto de
2010, prevê que até 2014, todos os lixões serão fechados, os municípios terão
que construir aterros sanitários e tratar adequadamente os seus resíduos
sólidos.
O fim dos
lixões representará a desterritorialização* dos catadores, algo inicialmente
positivo, pois o lixão é um local de trabalho degradante, insalubre.
Entretanto, a desterritorialização não pode representar exclusão e desemprego
para milhares de catadores.
O
trabalho dos catadores impulsiona a cadeia produtiva da reciclagem e gera
empregos, por exemplo: no comércio (sucatas e atravessadores); setor de
transportes (motoristas e carregadores); indústrias de beneficiamento; de
transformação e finalmente nas indústrias que utilizarão as matérias-primas
elaboradas a partir dos produtos reciclados. A reciclagem também representa
vantagem na economia de água e energia elétrica, uma vez que, produzir com
matéria-prima reciclada é mais econômico do que a produção a partir de
matéria-prima virgem.
A PNRS
assegura a inclusão dos catadores de materiais recicláveis como agentes do
sistema de limpeza pública. Para isso é imperativo criar políticas públicas que
assegurem a inserção dos catadores de materiais recicláveis no território da
cidade.
Conforme
a Constituição do Brasil e a PNRS cabe ao poder municipal executar os serviços
de coleta e tratamento dos Resíduos Sólidos, esta é uma atribuição das
prefeituras, em outras palavras, as prefeituras são as responsáveis por
assegurar a inclusão dos catadores.
Como
assegurar aos catadores de materiais recicláveis trabalho e renda? O seu lugar
nas cidades? Como afirmar sua cidadania fora dos lixões?
Um dos
caminhos é a coleta seletiva e a organização dos catadores em cooperativas ou
associações.
No Pará,
uma cidade que vem consolidando as normativas da PNRS é Bragança. Os catadores
do município estão lutando e construindo sua alternativa sustentável: coleta
seletiva com inclusão dos catadores.
Desde
2010, a Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis dos Caetés
(COOMARCA), que reúne 15 famílias (aproximadamente 30 catadores), executa a
coleta seletiva. Eles recolhem diariamente cerca de uma tonelada de material
reciclável. Os resíduos coletados pela COOMARCA deixam de prejudicar o meio
ambiente, uma vez que são desviados do lixão da cidade (lixão do Marrocos).
Todo o material coletado é destinado à reciclagem.
Para
ampliar a coleta seletiva na cidade de Bragança é fundamental que o poder
público local assuma sua responsabilidade constitucional e aquelas previstas na
PNRS, entre elas constam: aprovar o Plano Municipal de Gestão de Resíduos
Sólidos; extinguir o lixão do Marrocos, transformando-o em aterro sanitário;
garantir em legislação específica a inclusão/contratação de todos os catadores
no serviço de coleta seletiva, inclusive com remuneração pelos serviços
prestados por eles.
Hoje os
catadores da COOMARCA executam a coleta seletiva em Bragança de forma
independente, significa que o serviço não é uma política pública, não é
institucionalizado. A prefeitura não coordena, não participa e consequentemente
não remunera os catadores pelo serviço.
A falta
de apoio por parte da prefeitura além de limitar e comprometer a qualidade do
serviço, também impede a inclusão de mais famílias de catadores na cooperativa
e na coleta seletiva. Existem no lixão do Marrocos aproximadamente 60 famílias,
mais de 100 catadores à espera de receber os benefícios previstos pela PNRS, ou
seja, a troca do território do lixão pela cidade, a troca do trabalho
extenuante e insalubre pelo trabalho na coleta seletiva.
Para
debater a coleta seletiva em Bragança, no dia 01/06, será realizado o Seminário
Coleta Seletiva Solidária, no IFPA, todos estão convidados a participar e
contribuir.
* A
temática da desterritorialização dos catadores é abordada por Edane Acioli, no
artigo Catadores de Materiais Recicláveis: da rejeição à inclusão social.
Conheça um pouco mais do trabalho da COOMARCA, assista o vídeo:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=_bBWm_92oMc
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=_bBWm_92oMc
Marcelo Carvalho
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